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Conceitos

Cenário Corpocêntrico

Em diferentes momentos da história, é possível perceber que os componentes dos processos de subjetivação oscilam suas forças: cada época tece seus fios de determinada maneira. A partir do século XX, considera-se que é principalmente sobre a pele que apresenta-se a forma comumente chamada de indivíduo, de sujeito, de eu ou de você. Os corpos, assim como a subjetividade, são delineados por uma série de agenciamentos que os produzem e os desfazem incessantemente. É pertinente considerar os modos de interferir sobre os corpos, as maneiras de vestir e de adornar como elementos que compõem-se com os outros vetores, os quais produzem os modos de ser, os modos de relação a si, as subjetividades.

Essa configuração delineia-se ao longo do século XX, quando o corpo passa a funcionar como um dos mais férteis terrenos da materialização dos cruzamentos entre a ciência, a tecnologia, o design, a moda, as artes e inúmeros outros setores produtivos, cujas políticas e economias são atravessadas por investimentos tão complexos quanto simplificadores de sua natureza orgânica e biológica. Especialmente a partir dos anos 1950, o corpo vive e participa de um momento histórico no qual se apresenta como portador-vetor-expositor dos mais intensos paradoxos contemporâneos e se mostra tão fortalecido quanto fragilizado, tão famoso quanto esquecido, tão exposto quanto blindado, tão visível quanto inexpressivo.

O trabalho do Projeto CUIDE-SE baseia-se na importância central do corpo enquanto componente de processos de subjetivação no contexto da contemporaneidade, sendo valorizado na constituição identitária, ao se afirmar enquanto terreno para tornar-se si mesmo

Referência

MESQUITA, Cristiane; CASTILHO, Kathia (ORG). Corpo, moda e ética: Pistas Para Uma Reflexão de Valores. Estação das Letras, São Paulo, 2012.

Cultura Somática

Este conceito é apresentado pelo psicanalista Jurandir Freire Costa que ressalta o corpo, a aparência e a visibilidade como fortes vetores de processos de subjetivação no contemporâneo. Costa delineia uma sensibilidade exacerbada para a aparência e um encantamento pelo corpo que tornam o ambiente propício ao desejo de uma “boa vida física", com a intensidade com que outrora desejávamos a paz espiritual, a honra cívica ou o prazer sentimental” (COSTA, 2004, p. 215, grifo do autor). Em suas notas sobre a cultura somática, afirma que suas considerações são atravessadas por uma particularidade na relação entre vida psicológico-moral e a vida física: “referir o sentimento de identidade ao corpo, significa definir o que somos e devemos ser, a partir de nossos atributos físicos” (Ibid., p. 203, grifos do autor).

A “personalidade somática” é apontada como aquela que “tem na imagem social do corpo o suporte, por excelência, do caráter ou da identidade” (Ibid., p.195). Encarna esta personalidade, um corpo referente para a construção da sensação identitária, um corpo musculoso na concentração de valores, malhado de investimentos afetivos em sua imagem, bombado de disponibilidade para ser visível.

Referência

COSTA, J. F. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro: Editora Garamond. 2004.
Territórios de Existência

Um território se faz a partir de todo um conjunto de componentes – espaço, tempo, valores, comportamentos, trabalho, pessoas – relações de diversas naturezas que marcam uma “morada”, um existir “estabilizador e calmante, no seio do caos” (DELEUZE e GUATTARI, 1997, p. 116). Para que esse espaço seja delimitado, é necessário que haja uma atividade de seleção de forças.

Para além da perspectiva geográfica do termo território, o filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995) e o psicanalista Felix Guattari (19301992) compreendem que é a potência de expressão que o define: “Há território a partir do momento em que componentes de meios param de ser direcionais para se tornarem dimensionais, quando eles param de ser funcionais para se tornarem

expressivos” (Ibid., p.121). É possível pensar que um território existencial constitui-se a partir de um conjunto de componentes, inclusive o corpo, como uma das forças que delineiam um “lugar de expressão”. Os próprios autores explicitam esta dimensão: “Há toda uma arte das poses, das posturas, das silhuetas, dos passos e das vozes. (…) Se for preciso, tomarei meu território em meu próprio corpo, territorializo meu corpo: a casa da tartaruga, o eremitério do crustáceo, mas também todas as tatuagens que fazem do corpo um território” (Ibid., p.128).

São muitos os territórios que compõem uma existência. Um território é sempre um lugar de passagem, pois as subjetividades são incessantemente processualizadas por meio de forças múltiplas e potentes nos processos de subjetivação. Territorialização e desterritorialização são movimentos constantes. Criar territórios por meio das roupas e da composição da aparência implica uma atenção para aquilo que se passa sensivelmente: ouvir o corpo e, a partir dessa escuta, compor paisagens expressivas

Referência

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. vol 4. Trad. Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 1997.

MESQUITA, Cristiane. Incômoda Moda: uma escrita sobre roupas e corpos instáveis. Dissertação de Mestrado. PUC/SP, 2000.

Design de Si

Breton utiliza esta expressão ao referir-se a práticas assim como o body building, a transexualidade ou as cirurgias plásticas. Tomamos a liberdade de ampliar o conceito (não sem uma certa ironia), no sentido de entender a sua valorização no que tange à tomada do corpo e da aparência como locus subjetivo.

Compreende-se que o design de si abarca diversas práticas que reforçam as ligações entre a composição da aparência e a expressão subjetiva; entre os investimentos na produção e transformação do corpo e a constituição de uma “sensação de si”. Para atender esta demanda, a indústria dos produtos que orbitam em torno da composição da aparência não mede esforços, que são intensificados por meio de diferentes áreas do conhecimento e diversificam-se no mercado. Esta oferta de produtos e intervenções abarca os mais diversos campos, desde a Medicina até a Biotecnologia, passando pelas academias de condicionamento físico, pelas técnicas de conscientização, pelas inúmeras possibilidades cosméticas e pela Moda.

Um amplo espectro de áreas ocupa-se em suprir o mercado com produtos conectados com experiências e sensações que favorecem a aparência como “lugar do eu” e reforça as ligações entre a composição do corpo e sua expressão subjetiva por meio de campanhas de comunicação e marketing.

Referência

BRETON, David Le. Adeus ao corpo: Antropologia e sociedade. Trad. Marina Appenzeller. Campinas: Papirus, 2003.

MESQUITA, Cristiane. Políticas do vestir: recortes em viés. Tese de Doutorado. PUC/SP, 2008.

Minha Abordgem

Documentário

 Jardelina da Silva: eu mesma 

Jardelina da Silva, 73 anos, costura enredos reais e imaginários que "fecham o mundo inteiro". Transforma sua biografia e a história do mundo em roupas e grita nas ruas o "jornal do planeta". A cada trabalho, registra sua própria imagem no Foto Pan, em Bela Vista do Paraíso. Para Jardelina, só vale o que ela pode assinar e é "a voz de Jardelina que dirige esse documentário." 
Créditos
Roteiro e Direção: Cristiane Mesquita
Co-direção: Lucas Bambozzi
Edição: Henrique Heber . Lucas Bambozzi
Pesquisa: Cristiane Mesquita . Déborah de Paula Souza . Rubens Pileggi Sá
Trilha sonora: O Grivo
Gráficos: Júlio Dui
Produtor: Lucas Bambozzi [Diphusa Mídia Digital e Arte]
Produtor associado: Rubens Pilei Sá
Realização: Promic. Secretaria da Cultura de Londrina Rumos Cinema e Vídeo. Itaú Cultural Diphusa. Mídia Digital e Arte Ltda.
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